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O pedido de desligamento de parte do corpo clínico do Hospital Municipal Dr. Tabajara Ramos, oficializado nesta terça-feira (18), acabou pegando pacientes de surpresa e impactando diversos setores dentro das especialidades atendidas na unidade.

A decisão comunicada por alguns dos profissionais envolvidos, via as próprias redes sociais, instaurou uma espécie de crise, afetando principalmente setores como a Oncologia e Cirúrgico do hospital que atende pacientes de Mogi Guaçu e outras cidades da região.

A oncologia é o principal setor afetado pela decisão desta terça-feira (18) – Foto: GuaçuAgora

No entanto, a mesma intensidade que o episódio teve ao evidenciar um problema interno dentro da estrutura do HM, houve uma certa dúvida sobre as razões que levaram um grupo formado por aproximadamente dez médicos a optar pelo desligamento conjunto.

Para esclarecer as circunstâncias, parte dos profissionais optaram por se manifestar à imprensa local, descartando qualquer questão financeira. De acordo com os representantes, a medida teve como principal argumento a insegurança pessoal criada em razão da proposta apresentada pela nova OS (Organização Social) que vem respondendo pela gestão de serviços de saúde no município, a Beneficência Hospitalar Cesário Lange.

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Conforme detalharam os porta-vozes dos médicos, a condição imposta pela gestora para manutenção dos contratos foi o vínculo com a empresa MedServ Apoio Médico, o que, segundo eles, acabou gerando uma situação de insegurança tanto legal quanto pessoal.

“No contrato consta que ela (Cesário Lange) pode subcontratar empresas para prestação de serviço, mas não é obrigada e pode subcontratar quantas empresas ela quiser. E a gente não vê nenhum problema nisso. Então ela subcontratou uma empresa, que é a MedServ e o modelo que esta empresa ofereceu é o de sociedade limitada, na qual seríamos cotistas, com uma porcentagem pequena”, explicou a médica oncologista Amanda Zorzeto Antonialli.

Ainda de acordo com os profissionais, no quadro de sócios da MedServ, constam nomes sob investigação em suspeitas de fraude em contratos ligados à INCS (Instituto Nacional de Ciência da Saúde). “Só que esta MedServ, tem os mesmos sócios do Instituto, que, há inclusive várias reportagens, é envolvido em vários problemas judiciais, com Polícia Federal e Ministério Público, apontando para possíveis fraudes”, ponderou a médica.

Os profissionais descartaram questões financeiras para o pedido de desligamento e lamentaram ainda a postura de representantes da Cesário Lange, quando durante uma última reunião virtual teria afirmado que as condições para seguir atuando no Hospital Municipal eram as apresentadas pela nova gestora.

“A minha questão é estar associada a empresas que possuem históricos com problemas, ou suspeitas de problemas sérios”, resumiu Amanda.

Os médicos disseram que propuseram a criação de uma empresa para que a subcontratação fosse feita através dela e a medida foi descartada pela Cesário Lange. “A gente até perguntou na reunião se vocês (Cesário Lange) não poderiam então contratar uma empresa nossa (médicos). Nós montamos uma empresa, nos cadastramos dentro da Cesário Lange, e justificaram que não era possível porque quando aceitaram o valor que o Município pagaria, já havia sido feito um orçamento com a MedServ e não havia como desmembrar. Deram algumas justificativas (e não aceitaram)”, afirmou a médica Amana Ramos.

Os porta-vozes disseram que na noite de quarta-feira (19) receberam da própria Cesário Lange um comunicado apresentando uma nova empresa para vínculo. Contudo, de acordo com eles, o cenário de insegurança seria o mesmo. “Até a última reunião apenas a MedServ seria a empresa habilitada e às 22h00 de quarta-feira uma nova empresa, criada há sete meses e um capital social totalmente incompatível com o que ela iria assumir surgiu”, pontuou Amanda.

Os médicos ressaltaram que todas as tratativas foram acompanhadas pelo superintendente do Hospital Municipal e vereador licenciado, Luciano Firmino Vieira, e que a posição mantida por ele na reta final das tratativas deixa pouca esperança de que o quadro instalado desde terça-feira seja revertido.

“Desde que soubemos disso, no dia 23 (de janeiro), começamos a procurar o superintendente, o Luciano, pedindo por favor que ele intervisse por nós porque a empresa (Cesário Lange) ainda responde ao superintendente, para que nós tivéssemos uma forma de contrato que não nos prejudicasse, que não nos deixasse tão vulnerável. E as conversas pareciam que estariam para uma boa solução, até que no dia 18 teve esta reunião e a única coisa que foi dita é que ou vocês assinam ou estão fora”, disse Amanda.

Neste momento, a decisão dos profissionais tem um impacto direto nos novos pacientes e naqueles já assistidos que seriam submetidos a procedimentos cirúrgicos. De acordo com eles, os pacientes pós-cirúrgicos continuarão sendo assistidos pelos próximos 30 dias.

As médicas Amanda Antonialli (esq) e Amana Ramos detalharam as razões da decisão tomada por cerca de dez profissionais – Foto: GuaçuAgora

EXPLICAÇÕES

Através da Secretaria Municipal de Comunicação Social, a superintendência do Hospital Municipal Dr. Tabajara Ramos foi questionada pela reportagem do GuaçuAgora e se manifestou nesta sexta-feira.

Segundo a superintendência, o Hospital Municipal passa por uma transição comum provocada pelo término de um contrato e início de outro, sem qualquer irregularidade ao longo desse processo e o cumprimento do contrato firmado com a Cesário Lange será fiscalizado para assegurar a oferta de serviços eficientes e de qualidade aos munícipes assistidos pela estrutura hospitalar de Mogi Guaçu.

Em relação a subcontratação da MedServ, a superintendência afirmou que a empresa foi descartada. “A MedServ é uma empresa credenciada, mas teve sua contratação descartada. Ela não presta, nem prestará serviços ao município, nem à OS Cesário Lange em seu contrato com o Hospital Municipal Dr. Tabajara Ramos”, garantiu.

Quanto ao INCS, a afirmação é de que nenhum dos episódios sob investigação faz referência à Mogi Guaçu. “Ao longo de sua atuação em nosso município, por mais de 10 anos, a INCS jamais teve contratos investigados pela polícia”, frisou a superintendência.

Quanto aos impactos da decisão de desligamento dos profissionais, a afirmação é que “o Hospital Municipal tem acompanhado de perto o processo de transição contratual e a execução de serviços por parte da OS Cesário Lange, garantindo que eventuais impactos no atendimento aos pacientes sejam minimizados, evitando qualquer prejuízo aos tratamentos”.

A superintendência confirmou que os profissionais que solicitaram desligamento seguem cumprindo, por período legal, compromissos de assistência aos pacientes em tratamento. Ainda de acordo com ela, aqueles que se desligaram de forma imediata foram substituídos. “O compromisso do HMTR é garantir que o atendimento siga acontecendo normalmente, sem prejuízos ao munícipe”, salientou.

A reportagem do GuaçuAgora também questionou a Beneficência Hospitalar Cesário Lange e a MedServ Apoio Médico. Contudo, até a publicação da matéria, ambas não se manifestaram.